Papa ressalta gestos de misericórdia e amor ao próximo


20/03/2020 - 12:09

O Papa Francisco celebrou nesta quarta-feira, 18, a tradicional Catequese e mais uma vez de dentro da Biblioteca Vaticana, porém com este forte convite a viver esse momento de provação, de dificuldade, com o coração em Deus e gestos de amor ao próximo.

Veja abaixo na íntegra a Catequese do Papa:

CATEQUESE DO PAPA FRANCISCO
Praça São Pedro– Vaticano
Quarta-feira, 18 de março de 2020

Boletim da Santa Sé
Tradução: Liliane Borges (Canção Nova)

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje nos concentramos na quinta bem-aventurança, que diz: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque encontrarão misericórdia” (Mt 5,7). Nesta bem-aventurança há uma particularidade: é a única em que coincidem a causa e o fruto da felicidade, a misericórdia. Aqueles que exercitam misericórdia encontrarão misericórdia, serão “misericordiosos”.

Este tema da reciprocidade do perdão não está presente apenas nesta bem-aventurança, mas é recorrente no Evangelho. E como poderia ser de outra maneira? A misericórdia é o próprio coração de Deus! Jesus diz: «Não julgueis e não sereis julgado; não condeneis e não sereis condenado; perdoai e sereis perdoados (Lc 6,37)¨. Sempre a mesma reciprocidade. E a Carta de Tiago afirma que “a misericórdia triunfa sobre o julgamento (2,13).”

Mas é sobretudo no Pai Nosso que rezamos: “Perdoai-nos as nossas dívidas, como também perdoamos os nossos devedores” (Mt 6,12); e esta questão é a única retomada no final: “Se de fato você perdoa os pecados dos outros, seu Pai do céu também vos perdoará; mas se você não perdoa aos outros, seu Pai também não perdoará seus pecados “(Mt 6: 14-15; cf. Catecismo da Igreja Católica, 2838)

Há duas coisas que não podem ser separadas: perdão dado e perdão recebido. Mas muitas pessoas sentem dificuldade, elas não conseguem perdoar. Tantas vezes o mal recebido é tão grande que ser capaz de perdoar assemelha subir uma montanha muito alta: um esforço enorme; e pensa-se: não pode ser feito, isto não pode ser feito. Esse fato de reciprocidade de misericórdia indica que precisamos reverter a perspectiva. Sozinho não podemos, é preciso a graça de Deus, devemos pedi-la. De fato, se a quinta bem-aventurança promete a misericórdia e, no Pai Nosso, pedimos a remissão de dívidas, isso significa que somos essencialmente devedores e precisamos encontrar misericórdia!

Estamos todos em dívida. Todos. Diante de Deus, que é tão generoso, e diante dos irmãos. Cada pessoa sabe que não é o pai ou a mãe que deveria ser, o noivo ou a noiva, o irmão ou a irmã que deveria ser. Estamos todos “em déficit” na vida. E precisamos de misericórdia. Sabemos que também fizemos o mal, sempre falta algo do bem que deveríamos ter feito

Mas precisamente essa nossa pobreza se torna a força para perdoar! Somos devedores e, como ouvimos no início, seremos medidos pela medida com a qual medimos os outros (cf. Lc 6,38), então devemos ampliar a medida e perdoar as dívidas, perdoar. Todos devem se lembrar de que precisam perdoar, precisam de perdão, precisam de paciência; este é o segredo da misericórdia: ao perdoar, se é perdoado. Portanto, Deus nos precede e nos perdoa primeiro (cf. Rm 5, 8). Ao receber seu perdão, nós, por sua vez, nos tornamos capazes de perdoar. Assim, a própria miséria e falta de justiça tornam-se uma oportunidade de se abrir para o reino dos céus, em maior medida, a medida de Deus, que é misericórdia.

De onde vem nossa misericórdia? Jesus nos disse: “Sejais misericordiosos, como vosso Pai é misericordioso (Lc 6:36)”. Quanto mais você acolhe o amor do Pai, mais você ama (cf. CCC, 2842). A misericórdia não é uma dimensão entre outras, mas é o centro da vida cristã: não há cristianismo sem misericórdia. [1] Se todo o nosso cristianismo não nos leva à misericórdia, seguimos o caminho errado, porque a misericórdia é o único objetivo verdadeiro de todo caminho espiritual. É um dos mais belos frutos da caridade (cf. CCC, 1829)

Lembro que esse tema foi escolhido desde o primeiro Angelus que eu tive que rezar como Papa: a misericórdia. E isso permaneceu muito impresso em mim, como uma mensagem que, como Papa, eu deverei sempre transmitir, uma mensagem que deve ser cotidiana: misericórdia. Lembro-me daquele dia em que também tive a atitude um pouco “sem pudor” de fazer publicidade de um livro sobre misericórdia, recém publicado pelo cardeal Kasper. E naquele dia senti muito forte que esta é a mensagem que devo transmitir, como bispo de Roma: misericórdia, misericórdia, por favor, perdão

A misericórdia de Deus é nossa libertação e a nossa felicidade. Vivemos de misericórdia e não podemos nos permitir estar sem misericórdia: é o ar para respirar. Somos pobres demais para estabelecer condições, precisamos perdoar, porque precisamos ser perdoados. Obrigado!



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